terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Joaquim Cardozo Duarte (1941-2013)



JOAQUIM CARDOZO DUARTE (Condeixa, 1941 - ), padre desde 1965, licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra em 1977, assume as funções de director do jornal em Julho de 1978, onde exerce na altura o cargo de chefe de redacção, no qual substituíra o também padre, e artista plástico, Augusto Nunes Pereira. Joaquim Cardozo Duarte  é responsável por algumas alterações a nível do grafismo do semanário e também do “modelo de funcionamento”, destacando-se as “reuniões da Redacção”, uma espécie de plenário dos colaboradores do jornal em que – entre outros assuntos – é debatido o tema de cada Editorial. Abandona o cargo em Novembro de 1983, quando é chamado a exercer funções em Lisboa – no Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (organismo da Igreja Católica) e na Universidade Católica Portuguesa, onde acaba por se doutorar (magna com laude) em Filosofia no ano 2000.
[referência biográfica na dissertação de mestrado "Sintomas de Urbano Duarte",
apresentada em Setembro último] 


Chego a casa, abro a caixa do correio e... arrepio-me.
Na primeira página do (também "meu") "Correio de Coimbra" a notícia da morte de Joaquim Cardozo Duarte, um amigo, que foi chefe de Redacção e director do semanário diocesano na altura em que, há 40 anos, dei os primeiros passos no jornalismo.
Foi um forte murro no estômago.
Morreu um amigo e não soube a tempo de estar no funeral.
(excerto do texto publicado ontem, ao princípio da noite, no Facebook)


O "dr. Cardozo", como o tratávamos no "Correio de Coimbra" chegou ao jornal em finais de 1975, substituindo o padre Nunes Pereira na chefia da Redacção. Três anos depois assumiu a direcção do jornal, na sequência da renúncia de Urbano Duarte. Foi o sétimo director da história do "Correio".

Chegou e mudou algumas coisas em termos de funcionamento, a mais importante das quais foi o promover semanalmente uma reunião dos colaboradores do jornal, para avaliar o trabalho realizado, programar as próximas semanas e, sobretudo, decidir sobre o tema do "Editorial" da edição seguinte. Todos participavam no debate, votava-se o assunto a abordar e ele, Joaquim Cardozo Duarte, redigia depois o texto. Uma novidade absoluta, em termos de organização interna do semanário.
Promoveu também a mudança do grafismo do jornal, chamando a colaborar nessa tarefa Franklin Carvalho, na altura estudante de Filosofia, área em que Cardozo Duarte se licenciou nesse tempo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Nesses anos 70, já padre, Cardozo Duarte jogou futebol no Clube de Condeixa. Era o "capitão" de equipa. Nunca o vi jogar, mas colegas de arbitragem (onde andei entre 1974 e 1980) contaram-me que era um jogador fogoso, que discutia por vezes as decisões. Mas todos se referiam ao padre-futebolista com notório respeito.

Em meados de 1978, quando terminei o curso do Magistério Primário, o "dr. Cardozo" nomeou-me coordenador da Redacção do jornal. Anos mais tarde, muitos anos mais tarde, vim a descobrir que tinha sido... chefe de Redacção sem o saber. O meu nome nunca apareceu nessa qualidade no cabeçalho do jornal, nem sequer na "ficha técnica" do jornal. No entanto, no texto de despedida das funções do jornal, em 1983, Cardozo Duarte agradece ao chefes de Redacção com quem tinha trabalhado e... refere o meu nome.
[Situação semelhante aconteceu-me há dois anos, na última passagem pelo "Diário de Coimbra". Só ao fim de quatro meses a trabalhar no jornal é que soube que era chefe de Redacção adjunto. A situação repetiu-se, assim, 33 anos depois.]

No meu casamento (1980)

O relacionamento com o padre Cardozo Duarte teve outros momentos significativos. Em 1980 foi um dos sacerdotes que estiveram presentes no meu casamento, em Castanheira de Pera. Em 1993 convidou-me para representar Portugal na "Universidade de Verão" da União Católica Internacional da Imprensa, naquela que acabou por ser a maior "reportagem" da minha vida, durante 31 dias, entre Berlim Oriental e Kiev, que resultou num trabalho publicado na "Notícias Magazine" na véspera do Natal desse ano, intitulado "As ruínas do comunismo". Agora, em finais do ano passado, retomámos o contacto, a propósito do meu trabalho de mestrado, que incide na história do "Correio de Coimbra" e nas crónicas (os "Sintomas") de Urbano Duarte. Falámos ao telefone algumas vezes, trocámos correspondência.

A última vez que o ouvi foi em meados de Outubro. Ligou-me para dar os parabéns pelo mestrado e terminou com uma recomendação, quase ordem: «Olha que eu quero ler o trabalho!». Respondi: «Ando a ver o modo de o editar. Mas esteja descansado. Logo que houver livro, um será seu!».
Eis uma promessa que, infelizmente, já não poderei cumprir.

Descanse em paz, Amigo.

Início do testemunho para a dissertação de mestrado (2013)
Cartão que acompanhou as quatro folhas A4 (2013)

Notícia no "Correio" (2013)

1 comentário:


  1. Os olhos de mim viram hoje sepultar um Amigo. Deixei as lágrimas em casa... não as quis levar para o funeral.
    Não lhe vi o rosto... a minha memória guarda-lhe o sorriso. Nas proximidades da urna, o tempo recuou-me e fez-me num outro lugar, num outro tempo antes... A sua voz repetiu-se-me e ouvi-lhe: "Temos sempre a vida por um fio. Faz da vida o patamar das tuas alegrias. Faz de ti o eixo da tua roda... e roda... e leva sempre na tua roda os que amas."
    Estas não terão sido as rigorosas palavras... Mas estas são as palavras que me fazem e traduzem a memória desse diálogo.
    Há seres humanos que nos deixam marca... que sempre transportamos em nós. E que, num qualquer dia que é dia em dia das nossas vidas fazem como o azeite em água...
    Hoje vivi esse dia!
    Um epílogo físico aconteceu.
    Na memória permanecerá a vida.

    Carlos Ventura
    (texto que publiquei no meu mural do facebook)

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