Conhecemo-nos há alguns meses.
As nossas vidas cruzaram-se e num instante tornámo-nos
amigos. Não sei bem como nem porquê. A verdade é que o nosso dia-a-dia passou a
ser diferente depois daquele momento.
Fizeste-me companhia dias seguidos, noites seguidas. Ia à
varanda fumar um cigarro depois do jantar e olhava-te com um misto de ternura e
admiração. Saía de casa de manhã e saudava-te.
Tu, humilde, quase terna, tornaste-te presença obrigatória
na minha vida. E foi assim crescendo o nosso relacionamento.
Fotografei-te vezes sem conta nos últimos meses.
A tua existência ajudava os meus dias a serem melhores. E
isso é algo que nunca te poderei pagar, embora saiba que estes sentimentos
entre amigos ultrapassam o simples deve-e-haver da vida a correr que hoje todos
somos obrigados a viver.
A tua presença era estímulo e conforto. Sabia-te protegida
junto de mim e creio que tu sentias o mesmo.
Ontem, ao chegar a casa, com a rua transformada num rio de
águas soltas e violentas, senti um aperto no coração. Pressenti o pior.
Olhei e não te vi. A chuva caía frenética. Mesmo assim, saí
do carro e fui ver de ti. Não te encontrei. Caminhei rua abaixo à tua procura
e... nada.
Concretizaram-se os piores receios. A enxurrada, com a sua
força brutal e estúpida, não percebera que tu, minha amiga, eras diferente e
arrastara-te para longe de mim.
Fiquei triste, muito triste, por te saber perdida. Para
sempre.
Entrei em casa, abatido, a alma a doer. Sem saber o que
fazer, surgiu-me o pensamento de honrar a tua memória. E comecei a cogitar este
texto, como preito de homenagem a um convívio diário de tantos meses.
É o que aqui tentei fazer. Com o coração despedaçado por
hoje já não ter tido a tua companhia pela manhã, quando saí de casa para o
trabalho.
Até sempre, “minha” querida escova de dentes azul com risca
branca!
(Dedico este texto aos responsáveis pela limpeza urbana em
Coimbra, com votos de que em 2010 prossigam com o meritório trabalho que
desenvolvem. Como a rua onde vivo não é varrida há 14 anos, creio que será
inglório não conseguir chegar, pelo menos, aos três lustros. Vamos a isso!)
(publicado originalmente em 31 de Dezembro de 2009)
Sem comentários:
Enviar um comentário