Propaganda eleitoral apanhada ontem, duas semanas após as eleições, no chão de uma rua do centro de Lisboa |
O cidadão nunca teve à disposição tantos meios para se
informar como hoje. Mas isso não significa que esteja melhor informado ou, por
outro lado, que lhe seja fornecida melhor informação. Antes pelo contrário.
No meu trabalho de mestrado, abordando genericamente a
questão, escrevi o seguinte: «Numa
época em que a informação circula de modo cada vez mais veloz, e em que o
volume dessa mesma informação assume – devido à globalização – proporções nunca
antes conhecidas, o cidadão comum sente crescentes dificuldades em fazer as
indispensáveis sínteses».
Ou seja, escrito de
outra forma: perante tal volume de informação (produzida cada vez mais
rapidamente e, portanto, com menor qualidade), o cidadão vê-se obrigado a um
esforço cada vez maior de comparação, reflexão e apreensão.
E se não o fizer
pode acabar mal informado.
O CASO CONCRETO DAS
ELEIÇÕES EM LISBOA
A vitória de António
Costa nas recentes eleições para a Câmara de Lisboa é uma situação exemplar (no
mau sentido, entenda-se) de como os cidadãos podem ser levados a construir uma
opinião errada.
O triunfo do autarca
socialista foi apresentado como uma vitória pessoal retumbante e, mais do que
isso, como uma vitória política significativa do Partido Socialista. Foram
estas as ideias mais divulgadas por rádios, televisões e jornais – e, estou
certo, são as ideias que ainda hoje permanecem na cabeça da generalidade dos
cidadãos.
1. António Costa encabeçou
uma lista que, na verdade, era uma coligação. Para além de socialistas e de
candidatos ditos “independentes”, incluiu dois movimentos organizados de cidadãos:
“Lisboa é Muita Gente”, de Ricardo Sá Fernandes, e “Cidadãos Por Lisboa”, de Helena
Roseta. Esta, aliás, encabeçou a lista para a Assembleia Municipal.
O facto, que me
recorde, nunca foi destacado, nem na noite eleitoral nem nos dias seguintes.
2. António Costa foi
eleito com 50,9% dos votos (segundo a versão oficial), mas que correspondem na
realidade a 22,9% dos eleitores. Ou seja, quando o presidente assomar à varanda
dos Paços do Concelho e olhar para o largo deverá concluir que, em cada 100
lisboetas que lá se encontrarem, 77 não votaram nele.
Outro facto que não me recordo de ter sido referido.
3. António Costa foi
eleito com menos 6.947 votos do que nas eleições anteriores.
Também este facto nunca me surgiu pela frente nem em televisões nem em jornais.
Vitória esmagadora?
É por isso que, apesar de todos os meios actualmente disponíveis,
não é certo que o cidadão esteja em 2013 melhor informado do que estava há 10,
20 ou 30 anos atrás.
Talvez seja por isso, também, que os meios de comunicação
social tradicionais se encontrem em crise acentuada – e não apenas os jornais como, erradamente, tantas vezes se
tenta fazer crer.
Sem comentários:
Enviar um comentário