sábado, 26 de outubro de 2013

Diário de Coimbra e Diário As Beiras: irmãos gémeos

Há dois diários em Coimbra: o Diário de Coimbra, com 83 anos de existência, e o Diário As Beiras, com 19. O aparecimento deste último, em Março de 1994, foi uma “lufada de ar fresco”, acabando com o “monopólio informativo” do primeiro. E provocou diversas alterações no modo de fazer e de apresentar a informação aos conimbricenses.
Hoje, quase duas décadas depois, a situação é paradoxal: os dois jornais parecem fotocópias um do outro. A concorrência, afinal, produziu... dois “gémeos”. As notícias são praticamente as mesmas, o ângulo de abordagem é semelhante, a proximidade aos diversos poderes é constante num e noutro.
[O tema merece ser abordado com maior profundidade. É um autêntico “caso de estudo”. Mas o leitor comum apercebe-se facilmente das semelhanças existentes entre um e outro jornal. «Saltam à vista!», como diz o povo. E chegam a assumir contornos ridículos, como é o caso que hoje analiso. Reflexões mais profundas, creio, não cabem no âmbito de um mero blogue.]

As posses autárquicas em Coimbra. Muito parecidas, quase iguais...

A cobertura das recentes tomadas de posse das diferentes câmaras municipais da região veio provar, mais uma vez, que Diário de Coimbra e Diário As Beiras não passam de “fotocópias” um do outro. As diferenças são mínimas.
Ambos decidiram apresentar os executivos municipais, os vereadores, da mesma forma. E mal, como se verá já a seguir.
Empenhados ambos num jornalismo sem textura, em que o importante é a “espuma dos dias”, os dois jornais optaram por publicar as fotos dos autarcas, apenas com os nomes e os partidos que representam. É interessante, mas pouco acrescenta aos leitores. Não passa - desculpe-se a comparação – de um conjunto de cromos, como existiam nas colecções de quando eu era criança. Há 50 anos.
A informação oferecida ao leitor é a mínima possível. Nem a idade, nem a profissão, nem o facto de se tratar de uma reeleição, por exemplo, constaram nas páginas dos dois jornais. (E esse tipo de informação já consta hoje das colecções de cromos de futebolistas, por exemplo.)

Mais iguais não poderiam ser: rosto, nome e partido. Só...

Mas a pobreza foi maior.
Nenhum dos jornais se lembrou de, na ocasião, recordar os resultados eleitorais em cada concelho (agora já números oficiais, finais), de caracterizar minimamente cada município (área, número de habitantes, eleitores, posição no “ranking” da qualidade de vida, número de beneficiários de apoios sociais do Estado, etc., etc.).
E isto poderia ser feito em pequenos quadros, sem ocupar grande espaço, mas aumentando consideravelmente o interesse informativo. Mas não: os jornais ficaram-se pelos rostos dos vereadores.

Mas a pobreza foi ainda bem maior.
As assembleias municipais, onde têm lugar os presidentes das juntas de freguesia, foram esquecidas. Nem listas nominais, nem sequer uma referência numérica à composição de cada assembleia. Nada, a não ser o rosto do presidente do plenário concelhio.

Espantam-se os jornais por estarem em crise.
Como se já não bastassem as dificuldades económicas de grande parte da população, o “apetite” pelas novas tecnologias e pelas novas formas de “consumir informação”, a concorrência dos meios audiovisuais (com a televisão, hoje e sempre, à cabeça), como se já não bastassem todas estas dificuldades, os jornais ainda dão – continuam a dar – autênticos “tiros nos pés”, produzindo edições que, cada vez mais, interessam a cada vez menor número de pessoas. E isto sucede em áreas informativas onde não têm a concorrência dos outros meios, pelo que é mais estranho ainda que não aproveitem estas oportunidades para fidelizar e captar leitores. (Não, ainda acabam é por perder alguns dos que têm, que não se revêem neste tipo de escolhas editoriais.)

Lamentavelmente, em Coimbra, os dois diários copiam-se um ao outro e fazem-no da pior forma possível. Apostaram, neste caso concreto, num “jornalismo tipo-passe”. Ou seja, publicando imagens, imagens e imagens, sem mais informação do que... um rosto e um nome.

Mas há outros exemplos deste “jornalismo de proximidade” a que Coimbra está condenada neste momento. Até um dia...

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