A apoteose do espectáculo no Coliseu dos Recreios |
Na outra quarta-feira dei uma saltada a Lisboa para acompanhar o meu filho na "Noite da Medicina", o sarau anual dos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa.
Foi
um espectáculo bonito, durante três horas, no Coliseu dos Recreios. Mais do que
bonito: em alguns momentos, os participantes pareceram – em vez de estudantes
universitários – actores, cantores e bailarinos profissionais, tal a qualidade
dos “sketches”, das canções e das danças, servidos por uma cenografia de bom
nível, excelente som e criativos jogos de luzes. Mas sem nunca deixar de ser um
sarau académico.
[O
João prepara-se para concluir o curso de Medicina. Um primeiro (grande) passo
no caminho de quem pretende ser cirurgião. Veremos o que o futuro lhe reserva…]
*
O
final do curso do João vai ser um marco importante na minha vida e na da minha
mulher. Há 30 anos que existimos para os filhos. Foi uma opção de vida, como
outra qualquer. A aposta foi clara: em vez de carros e de moradias, ou de
viagens por paragens paradisíacas, que porventura nunca teríamos ou nunca
faríamos, decidimos investir neles.
Eles,
a Filipa e o João, nunca viveram um dia sem a presença do pai ou da mãe; ou de
ambos. E essa presença foi o maior investimento, bem maior do que as aulas de
inglês que começaram a frequentar (quase... clandestinamente) aos 5 anos de
idade, o que lhes dá hoje uma competência linguística pouco vulgar. Ou as
classes de música, a equitação, o judo, o futebol, o basquetebol ou os campos
de férias no estrangeiro.
A
Filipa concluiu Direito em Coimbra, aos 23 anos, com 15 valores, ao mesmo tempo
que corria a Europa de ponta-a-ponta para representar mais de meio milhão de
jovens como ela, sem que a faculdade lhe desse as mínimas facilidades, ao
contrário do que fazia a outros colegas cujo “horizonte associativo” pouco
ultrapassava o princípio e o fim da... Rua Padre António Vieira.
Concluiu
o curso em 2006 e parece que foi ontem. [E talvez tenha sido mesmo ontem,
porque a Universidade ainda não lhe passou o correspondente diploma.] Trabalha
em Lisboa há cinco anos, já viu um “plano de negócios” que elaborou para a
filial em Londres de uma empresa portuguesa ser premiado pelo reino inglês. E
luta pela vida todos os dias, decidida, sem “muletas” de qualquer espécie.
Dentro
de meses, tudo o indica, será o João. E partirá à procura do seu espaço
profissional, aqui ou em qualquer outro país que lhe abra as portas. Está
habituado, tal como a irmã, a enfrentar os próprios desafios.
Ao
longo destes anos, sempre lhes disse que, apesar de todo o desenvolvimento
tecnológico, iriam ter uma vida pior do que a minha. Eu vivi sempre (posso
mesmo escrever, até hoje) de forma despreocupada. Fui seguindo o meu caminho,
opção aqui, outra ali, num ambiente de relativa paz. Eles não. Habituaram-se
desde pequenos a viver sob pressão: primeiro, a dos “numerus clausus”; agora a
do mercado de trabalho.
Também
lhes disse que eles teriam de contar, apenas, consigo próprios. Que nunca
esperassem que o pai “metesse uma cunha” ou, simplesmente, fizesse uns
telefonemas. Mas sempre acrescentei, igualmente, que eles estariam muito melhor
preparados do que eu na mesma idade. Têm muito mais mundo, capacidades mais
desenvolvidas. Em suma: são muito melhores do que eu fui – e sou.
O
final do curso do João é assim como que o encerrar de um capítulo (o mais
longo) da minha vida: o da formação dos filhos. Aproxima-se uma nova etapa. E
também agora, como aliás sempre tem sucedido, sinto-me em perfeita paz.
Sei,
tenho a certeza, que eles são capazes de caminhar pelo próprio pé – e que, por
isso, o futuro não lhes mete medo. Uma e outro são autênticos vencedores, que
não necessitam, nunca necessitaram, de se agarrar às calças do pai ou às saias
da mãe. Nem, sequer, ao apelido – como se não fosse ele dos mais vulgares em
Portugal.
Hoje
é gratificante verificar que o sonho de há três décadas se transformou em
realidade. O mérito será de todos – mas é, sobretudo, deles. Da Filipa e do
João. Os meus (enormes) dois ídolos.
"Dança dos cirurgiões" momento em que participou o João Afonso |
Que maravilha haver país como estes pois os filhos tinham que ser como os os país boa sorte para os dois que deus lhe dê tudo quanto eles merecem abracinhos para os dois
ResponderEliminarBelíssima reflexão, e com o peito cheio de orgulho!!!Parabéns!
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